sábado, 15 de maio de 2010

LINK DE ACESSO À MINHA DISSERTAÇÃO DO MESTRADO

http://www.unisc.br/cursos/pos_graduacao/mestrado/letras/dissertacoes/turma_2006/nelma_pimenta_cruz.html

sexta-feira, 14 de maio de 2010

INTRODUÇÃO
"O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro
botando ponto no final da frase..."
Manoel de Barros


A partir dos versos acima, extraídos da poesia intitulada O menino que carregava água na peneira, do autor Manoel de Barros, a qual consta no livro Exercícios de ser Criança, "a criança" aprende a usar as palavras, fazendo "peraltagens". Esse é um verbete pouco usado, sendo utilizada, corriqueiramente, a palavra peraltice, a qual tem como acepções travessura, traquinagem, estripulia.
Este menino de Manoel de Barros brinca com as palavras, atribuindo-lhes elasticidade de sentidos, rompendo, assim, sua arbitrariedade. Ele aprende a usá-las, mas também a transgredi-las. Dessa forma, ler um texto literário é ler o registro da comunicação verbal, na qual as palavras assumem uma extensão de significados. Essa é uma maneira de ler o mundo. Um modo importante, o qual traz troca, alarga horizontes e permite a constante ampliação dos níveis de consciência humana, além de abrir espaços para várias outras leituras.
Porém, a vida oferece todos os dias, uma variedade de cores, formas, movimentos e significados. O olhar curioso humano observa os detalhes, as diferenças, as mudanças, o permanente, o novo, atribuindo-lhe significados pessoais. O desenvolvimento dessa prática, "educa" o olhar, estimulando o ser humano a ver e ler além das aparências e, assim, perceber a essência das coisas e fatos que o rodeiam.
Segundo Eva Furnari (2002), "pode-se usar a palavra leitura em um sentido menos comum, significando leitura visual. Essa é uma outra maneira de ler o mundo, não decifrando letras, mas imagens".
A leitura de uma narrativa visual conta, mostra, expõe, expressa, quase simultaneamente, de modo a criar combinações imagéticas no leitor infantil, instigando a sua imaginação, sensibilidade, quiçá reflexões existenciais.
Diante de tal percepção, é imprescindível se trabalhar a linguagem visual com as crianças cuja experiência de leitura está em construção.
Mas será que as narrativas visuais são capazes de potencializar o desenvolvimento crítico e cognitivo da criança? Esse foi o principal questionamento que norteou essa pesquisa.
O leitor não só é capaz de decodificar, mas ir além, ou seja, interagir com as imagens que compõe o texto, experenciando o ato de ler como uma aprendizagem dinâmica, lúdica, podendo compreender, relacionar, intervir, recriar...
Se o ato de ler é a interação do leitor/texto/autor, faz-se necessário que a criança frente ao texto visual, envolva-se inteiramente, a fim de que seja capaz de interagir, e, conseqüentemente, compreender o que foi vivenciado por ela. Dessa forma, o leitor infantil aprende a ler as suas atitudes nos olhos dos outros, e, com isso, o caminho do autoconhecimento se torna menos íngreme e penoso.
Vale, ainda, ressaltar que a práxis desse tipo de leitura visual deve ser mediada, pois através da mediação, a criança vivencia as várias partes que formam o todo, como também o todo de uma parte, ou seja, as seqüências de imagens que constituem toda a narrativa, assim como a leitura de cada imagem, a qual forma um todo individual, contribuindo, dessa forma, para a construção de significados diversos, a partir do olhar singular de cada leitor.
A leitura só é prazerosa, caso seja um exercício de liberdade, um ato de ousadia, um olhar perspicaz pelo conteúdo, podendo seguir o curso da curiosidade peculiar de cada olhar.
A relação da leitura através da mediação, empregada aos textos narrativos infantis e visuais, delimita o foco determinante dessa abordagem mediada que foi proposta a nove crianças. A práxis experimental da leitura de quatro narrativas, sendo três essencialmente de imagens e uma que apresenta o código verbal, porém este código não foi explorado, apenas as imagens mais a minha interação com esses nove alunos foram a diretriz essencial, a fim de alcançar uma possível resposta para o questionamento suscitado inicialmente.
Foi fundamental ressaltar que, para delimitar esse foco, a princípio, realizei uma abrangência relevante sobre o ato de ler, afinal, é a partir dele que toda essa experiência ocorreu. Desse modo, o primeiro capítulo foi fundamentado na tríade leitura/leitor/texto visual.
Sendo assim, a leitura exerceu um caráter perturbador, pois essa atividade se ateve à compreensão e construção de significados, a partir do olhar peculiar de cada criança mediada por mim, em relação aos textos de imagens sugeridos.
A linguagem é um recurso de comunicação próprio do ser humano, o qual evoluiu desde sua forma primitiva até a possibilidade de ler e escrever. O homem só é considerado verbalmente alfabetizado, desde que lance mão dos componentes básicos da linguagem escrita como as letras, palavras, frases, totalmente inter-relacionadas.
Em se tratando de uma pesquisa de textos de imagens, foi imprescindível o estudo dos componentes visuais, os quais constituem a sintaxe da linguagem visual, como também a semântica da linguagem visual, uma vez que cada texto de imagem suscita variados e diferentes olhares. Esses conteúdos foram tratados no segundo capítulo dessa pesquisa, juntamente com as narrativas de imagens trabalhadas nesse estudo.
A pesquisa, que foi desenvolvida, entrelaçou, no terceiro capítulo, os pressupostos teóricos que embasaram esse estudo com a práxis mediada e as nove crianças, as quais participaram ativamente desse estudo. Houve, também nesse momento, o detalhamento das oficinas aplicadas com os quatro textos visuais selecionados. Convém salientar que a compreensão das narrativas mediadas, delinearam explicitamente, a interação entre os leitores, textos de imagens e mediador, promovendo, assim, o intercâmbio e respeito de opiniões diante ao olhar subjetivo e próprio de cada criança.
A conexão entre o leitor adulto e o leitor em formação, através da mediação com textos de imagens, potencializou, efetivamente, o processo da leitura. Daí a relevância dessa pesquisa, que contempla a emergência de transformações afetivas e cognitivas no indivíduo.
Pelo grau de complexidade das variáveis do olhar, existentes nesse estudo, em se tratando da leitura de textos imagéticos, não se pode chegar a verdades conclusivas sobre o tema pesquisado. Talvez, uma das possíveis contribuições dessa pesquisa, nesse último momento, (considerações finais), tenha sido a possibilidade de abrir o diálogo sobre o assunto suscitado sob um novo olhar. Certamente, esse olhar não foi definitivo. Contudo, apenas mais um.

NARRATIVAS VISUAIS: MÚLTIPLOS OLHARES, LEITURAS PLURAIS

RESUMO DA MINHA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

No contexto escolar, a leitura do código visual é deixada em segundo plano, contrapondo-se à leitura do código verbal. Sendo assim, faz-se necessário a instrumentalização de leitores infantis, de maneira que eles sejam capazes de interagir com ambos os códigos simultaneamente. Dessa forma, esse estudo se propõe investigar a possibilidade de que uma leitura, utilizando-se como recurso a mediação por um leitor adulto, possa influenciar positivamente os leitores infantis a se tornarem mais competentes na leitura de narrativas exclusivamente de imagens. Para isso, foram realizadas coletas de dados, durante cerca de dois meses, utilizando-se em média dois turnos de quatro horas para cada livro de imagem trabalhado, num total de oito encontros. Participaram do grupo nove crianças, alunos de 4ª série do Ensino Fundamental de uma escola pertencente à rede pública municipal, localizada na cidade de Ilhéus (BA). A análise dos encontros das narrativas visuais trouxe contribuições significativas, potencializando o desenvolvimento crítico e cognitivo de cada sujeito envolvido nesse estudo, como também promovendo a reflexão sobre si mesmo e sobre o mundo, proporcionando a afirmação do eu e o encontro deste com o outro, com a alteridade.
PALAVRAS-CHAVE: leitura, imagem, cognição, semiótica